Biodiversidade (ameaças)
O
conceito de biodiversidade aparece pela primeira vez em 1980, veiculado por
biólogos e outros naturalistas, que já se mostravam apreensivos com a alarmante
destruição da natureza e da urgência de se tomarem medidas urgentes para
proteger o património natural. Contudo o termo só foi consagrado em 1992 na
Conferência do Rio de Janeiro, também designada como Cimeira da Terra. (Costa, s.d.)
Sabemos
e é repetido todos os dias que a biodiversidade está hoje mais ameaçada que
nunca em qualquer outro período da história, estimando-se que, aproximadamente
onze mil espécies estão em risco de desaparecer nos próximos anos (como referiu
e bem a C.E. numa comunicação ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre os
Planos de Ação da biodiversidade, no que respeita à conservação dos recursos
naturais, da agricultura, das pessoas e da cooperação económica para o
desenvolvimento, 2001, página 1, tendo como suporte um levantamento datado de
2000 e elaborado pela União Mundial para a Conservação – UICN). Esta ameaça que
se estende a todo o planeta de uma maneira diferenciada, verifica-se também na
Europa (particularmente na Península Ibérica que constitui um importante
santuário de diversidade biológica para toda a Europa Comunitária), onde, nas
últimas décadas se assistiu a uma grande diminuição dos recursos naturais, que
afetou muitas espécies e habitats. (MAOT,2001).
Porque
estamos a perder a diversidade biológica? Grande parte dos autores consultados
são unanimes em referir algumas ameaças, como:
·
A utilização e
sobre-exploração de recursos
·
Impacto
crescente das alterações climáticas (GEE) e suas implicações
·
A fragmentação e
destruição de habitats (nomeadamente devido ao aumento da demografia)
·
A poluição
·
A introdução de
espécies exóticas (ou alóctones invasivas)
A
U.E. tem assumido importantes posições para inverter o processo de degradação
ambiental. Os responsáveis políticos dos países membros acordaram em 2001 “que
o declínio da biodiversidade deve ser estancado, procurando alcançar este
objetivo até 2010”. A Europa Comunitária já criou alguns mecanismos para travar
a perda da biodiversidade integrados na Estratégia de Desenvolvimento
Sustentável, bem como uma vasta gama de políticas setoriais e ambientais. (CE,
2010)
As
duas primeiras ameaças indicadas anteriormente são particularmente importantes
para o espaço europeu. Os estados membros são responsáveis pela reversão, recorrendo
a um melhor planeamento das especificidades na utilização do recurso solo, á conservação
da biodiversidade e á continuação do usufruto dos serviços dos ecossistemas. O
impacto crescente das alterações climáticas na biodiversidade obriga a assumir
medidas eficazes no que respeita à emissão de GEE, eventualmente promovendo
medidas mais restritas do que preconiza o Protocolo de Quioto. (CE,2010).
A
crescente pressão humana sobre o planeta devido ao crescimento exponencial da
população mas também às suas necessidades cada vez maiores, origina talvez a
ameaça mais grave à diversidade biológica que é a fragmentação dos bosques,
zonas húmidas, recifes de coral e outros ecossistemas, (AIDB,2010) como as
terras de cultivo. O habitat natural solo vai sendo afetado pela sua inclusão
como terreno cultivado e pastoreado, enquanto os sistemas fluviais são
alterados para instalar sistemas de rega ou de regulação de caudais e
barragens. (WWF,2010) Por outro lado a expansão urbana e industrial está a
levar muitas espécies à extinção. Todos os anos desaparecem 17 milhões de
hectares de floresta tropical, o que poderá levar, se esta situação se
mantiver, à extinção de 5 a 10% das espécies que habitam neste ecossistema nos
próximos trinta anos. (Biodiversidade, s.d.).
A
poluição entendida em sentido lato (solo, ar, água) é outra das principais
ameaças à biodiversidade. Progressivamente, o oxigénio tem vindo a ser afetado
pela excessiva dosagem de nutrientes resultantes da crescente utilização de
compostos nitrogenados e fosfatados na agricultura, bem como a contaminação por
produtos químicos usados em atividades antrópicas. Outra vertente importante da
poluição é a que resulta da atividade industrial e mineira, enquanto a
crescente presença de dióxido de carbono na atmosfera está a causar a
acidificação dos oceanos, o que poderá ter importantes consequências,
nomeadamente causando problemas aos sistemas que constroem as conchas e os
recifes. (WWF,2010)
As
espécies alóctones invasivas (ou exóticas invasoras) são também uma enorme
ameaça em crescimento acelerado para a diversidade autóctone na Europa e no
Mundo. Espécies naturais (vegetais e animais) que quer por mecanismos naturais
ou pela ação do homem (pelo alargamento intercontinental das atividades
comerciais, turísticas e do transporte de mercadorias, etc.) podem fixar-se em
habitats que lhe são estranhos e afetar a diversidade biológica e o ambiente,
podendo ainda assumir impactos sociais e económicos, na saúde das comunidades,
na pesca, na agricultura e na produção alimentar. Atualmente a U.E. gasta, pelo
menos doze mil milhões de euros para controlar e reparar os danos decorrentes
das exóticas (ou invasoras). A rápida deteção deste perigo potencial é muito
importante, porque é mais fácil e barato combater as espécies na altura da
instalação ao mesmo tempo que a sensibilização do público para este problema é
também fulcral para vencer esta ameaça. (CE,2009)
A
Agencia Europeia do Ambiente (AEA) refere que o número de espécies invasivas
está a aumentar e pode ocasionar grandes danos nas espécies autóctones para
além de afetar a saúde humana, constituindo, por isso, uma grande ameaça à
biodiversidade. Há 395 espécies originárias da Europa classificadas com
“criticamente em riscos de extinção”, na lista vermelha das espécies ameaçadas
da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais,
das quais 101 estão nesta lista devido às espécies invasoras. O facto de
poderem ser portadoras de doenças é um perigo para os seres humanos e para
outros seres vivos. É o caso do mosquito tigre que se supõe transmitir vinte
doenças diferentes ou a ambrosia-gigante que é responsável por algumas
alergias, como a febre-dos-fenos. Na Europa há atualmente mais de dez mil
espécies exóticas das quais 15% têm um impacto ecológico e económico negativo.
Mas nem todos os efeitos dos invasivos são negativos: a batata, por exemplo,
que como sabemos veio do outro lado do Atlântico mudou os hábitos alimentares
dos europeus, tal como aconteceu com o tabaco que também alterou os nossos
hábitos, mas neste caso com as consequências funestas que se conhecem.
Referências Bibliográficas:
Año
Internacional de la Diversidad Biológica, (2010). http://www.un.org/es/events/biodiversity2010/loss.stml, consultado em 04/04/2013
Biodiversidade,
(s.d.). http://www.vivaterra.org.br/vivaterra_biodiversidade.htm, consultado em 04/04/2013
C.E.E.
(2006). Comunicação da Comissão. Travar a
perda da Biodiversidade até 2010-e mais além. Preservar os serviços
ecossistémicos para o bem-estar humano
Comissão
Europeia, (2009). Natureza e
biodiversidade. Espécies Alóctones Invasivas.
Costa,
M. J. (s.d.) Biodiversidade.
Instituto de Oceanografia
Ministério
do Ambiente e do Ordenamento do Território. (2001). Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Recursos
educativos, (2013). http://actividadesonline.blogspot.pt/2013/02/especies-exoticas-invasoras-sao-um.html.
Consultado em 05/04/2013
WWF,
Amenazas. (2010). http://www.wwf.es/que_hacemos/especies/biodiversidad_20102/amenazas/.
Consultado em 05/04/2013
Muito bem, isto já está muito diferente! Bom trabalho!
ResponderEliminarCaro colega,
ResponderEliminargostei muito da sua intervenção onde foca aspetos essenciais na questão ameaças à biodiversidade. Faz a seguinte referência “sabemos todos os dias que a biodiversidade está hoje mais ameaçada que nunca em qualquer outro período da história”, pois infelizmente esta tem sido a realidade com que nos deparamos, e o mais triste é o Homem, com o paradigma de “desenvolvimento” existente (maior procura = maior consumo = maior desenvolvimento) estar na base das ameaças à biodiversidade.
Sabe-se que os líderes mundiais não conseguiram cumprir o compromisso de redução de perda global de biodiversidade até 2010. Um artigo publicado na conceituada revista Science referencia isso mesmo, as metas definidas na CBD não foram alcançadas. O principal autor do artigo, Stuart Butchart reconhece “fizemos poucos progressos em reduzir as pressões sobre espécies, habitats e ecossistemas”. Mas é bom recordar que, se esse fracasso coletivo não for urgentemente corrigido, trará consequências nefastas para todos nós (a biodiversidade sustenta o funcionamento dos ecossistemas dos quais dependemos – alimentação, saúde, lazer, proteção contra tragédias naturais - e a sua perda também nos afeta cultural e espiritualmente). A boa notícia do artigo da Science é que houve alguns sucessos a nível local e nacional no combate à perda da biodiversidade, nos quais se incluem a designação de muitas áreas protegidas (ex. Parque Nacional de Juruena, no Brasil), a recuperação de determinadas espécies (ex. o Bisonte Europeu) e a prevenção de algumas extinções (ex. o Pernilongo da Nova Zelândia).
“A Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas publicada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) considerou, em 2008, a existência de 159 espécies ameaçadas em Portugal, incluindo 16 espécies de plantas e 143 espécies de animais.
Os peixes de água‑doce e peixes migradores são os dois grupos que apresentam as percentagens mais elevadas de espécies em risco (69%). Seguem ‑se as aves (38%), os répteis (32%), os mamíferos (26%) e os anfíbios (19%).” (Pinto et al., 2010) Sabe-se que 42% das espécies de vertebrados estão ameaçadas por fatores como a perseguição pelo Homem, a invasão de espécies exóticas, as doenças ou atropelamentos. (Fernandes, 2013) Ainda a ocorrência de fogos e a construção de barragens provocam a fragmentação e destruição dos habitats que contribuem para a perda de Biodiversidade.
No caso concreto das barragens, elas podem ter impactos profundos sobre os ecossistemas terrestre, aquático e aéreo, podendo levar a transformações irreversíveis na biodiversidade local. A título de exemplo, de afetação provocada em ambiente aquático, refere-se os vários efeitos sobre a vida dos peixes. O primeiro e mais direto é a interferência na sua migração e procriação, pois as barragens alteram o fluxo dos rios e criam enormes barreiras físicas para o ciclo migratório e até mesmo para a sobrevivência das espécies. O segundo, a temperatura da água pode fazer com que algumas espécies simplesmente desapareçam por não se adaptarem às novas temperaturas. Há também a questão da concentração de poluentes nesses reservatórios que faz com que possa aumentar a variedade e quantidade de doenças nos peixes. Além disso, existe ainda a questão da introdução nestas águas de espécies exóticas, que competem com as nativas e provocam o desaparecimento das espécies do reservatório de água e consequentemente do próprio rio. (Embora a escadas para peixes possa ser usada como uma medida mitigadora - com eficácia questionada por especialistas-, raramente consegue evitar que as espécies nativas não desapareçam.)
A “nossa” barragem de Alqueva (Alentejo, Portugal) é um exemplo recente dos impactos de grandes barragens, inundou 25 000 ha, implicou o corte em massa de árvores e o desaparecimento de áreas essenciais à sobrevivência de várias espécies ameaçadas (lontra, águia de bonelli, cegonha negra, gato bravo, entre outros. Provocou ainda, a quase destruição da galeria ripícola do vale do Guadiana, importante corredor ecológico para a dispersão de muitas espécies. (ptMA, 2013)
EliminarOs projetos de construção de barragens alegam ser em nome do denominado desenvolvimento sustentável, mas poderá um empreendimento que destrói paisagens e inúmeros habitats chamar-se de sustentável?
Referências bibliográficas:
CH (2013). Portal Ciência Hoje. Acedido a 10.04.2013 em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=42203&op=all
Fernandes, Ana. Artigo Livro Vermelho sobre os vertebrados quase metade das espécies em Portugal está ameaçada, Público, 2006. Acedido a 10.04.2013 em http://www.publico.pt/autor/ana-fernandes
Pinto, B. et al. (2010) Guia de campo - Dia B, BioEventos, pp 1-136
ptMA (2013). Portal Millennium Ecosystem Assessment. Acedido a 10.04.2013, em http://ecossistemas.org/
Cara Adélia:
EliminarBoa questão. Eu, no passado fui um dos grandes defensores de Alqueva. Como sabe estive até ligado à sua construção fundamentalmente porque ela poderia constituir uma importante "reserva estratégica de àgua" para o nosso Alentejo. Hoje, depois de conhecer mais profundamente estes assuntos (devido aos trabalhos em que estamos envolvidos) e da irreversibilidade de alguns dos impactos deste tipo de infraestruturas(e no caso de Alqueva estamos a falar de uma GRANDE infraestrutura) e do desenvolvimento do processo já não estou tão certo da minha posição.
As perguntas que agora coloco a mim próprio são, Quais as alternativas a Alqueva? E ainda não encontro respostas...
Esta reflexão é puramente pessoal não exigindo bibliografia que aliás não foi necessária,
Cumprimentos,
Manuel Mestre.