domingo, 7 de abril de 2013


Biodiversidade (ameaças)

O conceito de biodiversidade aparece pela primeira vez em 1980, veiculado por biólogos e outros naturalistas, que já se mostravam apreensivos com a alarmante destruição da natureza e da urgência de se tomarem medidas urgentes para proteger o património natural. Contudo o termo só foi consagrado em 1992 na Conferência do Rio de Janeiro, também designada como Cimeira da Terra. (Costa, s.d.)

Sabemos e é repetido todos os dias que a biodiversidade está hoje mais ameaçada que nunca em qualquer outro período da história, estimando-se que, aproximadamente onze mil espécies estão em risco de desaparecer nos próximos anos (como referiu e bem a C.E. numa comunicação ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre os Planos de Ação da biodiversidade, no que respeita à conservação dos recursos naturais, da agricultura, das pessoas e da cooperação económica para o desenvolvimento, 2001, página 1, tendo como suporte um levantamento datado de 2000 e elaborado pela União Mundial para a Conservação – UICN). Esta ameaça que se estende a todo o planeta de uma maneira diferenciada, verifica-se também na Europa (particularmente na Península Ibérica que constitui um importante santuário de diversidade biológica para toda a Europa Comunitária), onde, nas últimas décadas se assistiu a uma grande diminuição dos recursos naturais, que afetou muitas espécies e habitats. (MAOT,2001).

Porque estamos a perder a diversidade biológica? Grande parte dos autores consultados são unanimes em referir algumas ameaças, como:

·         A utilização e sobre-exploração de recursos

·         Impacto crescente das alterações climáticas (GEE) e suas implicações

·         A fragmentação e destruição de habitats (nomeadamente devido ao aumento da demografia)

·         A poluição

·         A introdução de espécies exóticas (ou alóctones invasivas)

A U.E. tem assumido importantes posições para inverter o processo de degradação ambiental. Os responsáveis políticos dos países membros acordaram em 2001 “que o declínio da biodiversidade deve ser estancado, procurando alcançar este objetivo até 2010”. A Europa Comunitária já criou alguns mecanismos para travar a perda da biodiversidade integrados na Estratégia de Desenvolvimento Sustentável, bem como uma vasta gama de políticas setoriais e ambientais. (CE, 2010)

As duas primeiras ameaças indicadas anteriormente são particularmente importantes para o espaço europeu. Os estados membros são responsáveis pela reversão, recorrendo a um melhor planeamento das especificidades na utilização do recurso solo, á conservação da biodiversidade e á continuação do usufruto dos serviços dos ecossistemas. O impacto crescente das alterações climáticas na biodiversidade obriga a assumir medidas eficazes no que respeita à emissão de GEE, eventualmente promovendo medidas mais restritas do que preconiza o Protocolo de Quioto. (CE,2010).

A crescente pressão humana sobre o planeta devido ao crescimento exponencial da população mas também às suas necessidades cada vez maiores, origina talvez a ameaça mais grave à diversidade biológica que é a fragmentação dos bosques, zonas húmidas, recifes de coral e outros ecossistemas, (AIDB,2010) como as terras de cultivo. O habitat natural solo vai sendo afetado pela sua inclusão como terreno cultivado e pastoreado, enquanto os sistemas fluviais são alterados para instalar sistemas de rega ou de regulação de caudais e barragens. (WWF,2010) Por outro lado a expansão urbana e industrial está a levar muitas espécies à extinção. Todos os anos desaparecem 17 milhões de hectares de floresta tropical, o que poderá levar, se esta situação se mantiver, à extinção de 5 a 10% das espécies que habitam neste ecossistema nos próximos trinta anos. (Biodiversidade, s.d.).

A poluição entendida em sentido lato (solo, ar, água) é outra das principais ameaças à biodiversidade. Progressivamente, o oxigénio tem vindo a ser afetado pela excessiva dosagem de nutrientes resultantes da crescente utilização de compostos nitrogenados e fosfatados na agricultura, bem como a contaminação por produtos químicos usados em atividades antrópicas. Outra vertente importante da poluição é a que resulta da atividade industrial e mineira, enquanto a crescente presença de dióxido de carbono na atmosfera está a causar a acidificação dos oceanos, o que poderá ter importantes consequências, nomeadamente causando problemas aos sistemas que constroem as conchas e os recifes. (WWF,2010)

As espécies alóctones invasivas (ou exóticas invasoras) são também uma enorme ameaça em crescimento acelerado para a diversidade autóctone na Europa e no Mundo. Espécies naturais (vegetais e animais) que quer por mecanismos naturais ou pela ação do homem (pelo alargamento intercontinental das atividades comerciais, turísticas e do transporte de mercadorias, etc.) podem fixar-se em habitats que lhe são estranhos e afetar a diversidade biológica e o ambiente, podendo ainda assumir impactos sociais e económicos, na saúde das comunidades, na pesca, na agricultura e na produção alimentar. Atualmente a U.E. gasta, pelo menos doze mil milhões de euros para controlar e reparar os danos decorrentes das exóticas (ou invasoras). A rápida deteção deste perigo potencial é muito importante, porque é mais fácil e barato combater as espécies na altura da instalação ao mesmo tempo que a sensibilização do público para este problema é também fulcral para vencer esta ameaça. (CE,2009)

A Agencia Europeia do Ambiente (AEA) refere que o número de espécies invasivas está a aumentar e pode ocasionar grandes danos nas espécies autóctones para além de afetar a saúde humana, constituindo, por isso, uma grande ameaça à biodiversidade. Há 395 espécies originárias da Europa classificadas com “criticamente em riscos de extinção”, na lista vermelha das espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, das quais 101 estão nesta lista devido às espécies invasoras. O facto de poderem ser portadoras de doenças é um perigo para os seres humanos e para outros seres vivos. É o caso do mosquito tigre que se supõe transmitir vinte doenças diferentes ou a ambrosia-gigante que é responsável por algumas alergias, como a febre-dos-fenos. Na Europa há atualmente mais de dez mil espécies exóticas das quais 15% têm um impacto ecológico e económico negativo. Mas nem todos os efeitos dos invasivos são negativos: a batata, por exemplo, que como sabemos veio do outro lado do Atlântico mudou os hábitos alimentares dos europeus, tal como aconteceu com o tabaco que também alterou os nossos hábitos, mas neste caso com as consequências funestas que se conhecem.

 

Referências Bibliográficas:

Año Internacional de la Diversidad Biológica, (2010). http://www.un.org/es/events/biodiversity2010/loss.stml, consultado em 04/04/2013

Biodiversidade, (s.d.). http://www.vivaterra.org.br/vivaterra_biodiversidade.htm, consultado em 04/04/2013

C.E.E. (2006). Comunicação da Comissão. Travar a perda da Biodiversidade até 2010-e mais além. Preservar os serviços ecossistémicos para o bem-estar humano

Comissão Europeia, (2009). Natureza e biodiversidade. Espécies Alóctones Invasivas.

Costa, M. J. (s.d.) Biodiversidade. Instituto de Oceanografia

Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. (2001). Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Recursos educativos, (2013). http://actividadesonline.blogspot.pt/2013/02/especies-exoticas-invasoras-sao-um.html. Consultado em 05/04/2013

WWF, Amenazas. (2010). http://www.wwf.es/que_hacemos/especies/biodiversidad_20102/amenazas/. Consultado em 05/04/2013

 

4 comentários:

  1. Muito bem, isto já está muito diferente! Bom trabalho!

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  2. Caro colega,

    gostei muito da sua intervenção onde foca aspetos essenciais na questão ameaças à biodiversidade. Faz a seguinte referência “sabemos todos os dias que a biodiversidade está hoje mais ameaçada que nunca em qualquer outro período da história”, pois infelizmente esta tem sido a realidade com que nos deparamos, e o mais triste é o Homem, com o paradigma de “desenvolvimento” existente (maior procura = maior consumo = maior desenvolvimento) estar na base das ameaças à biodiversidade.

    Sabe-se que os líderes mundiais não conseguiram cumprir o compromisso de redução de perda global de biodiversidade até 2010. Um artigo publicado na conceituada revista Science referencia isso mesmo, as metas definidas na CBD não foram alcançadas. O principal autor do artigo, Stuart Butchart reconhece “fizemos poucos progressos em reduzir as pressões sobre espécies, habitats e ecossistemas”. Mas é bom recordar que, se esse fracasso coletivo não for urgentemente corrigido, trará consequências nefastas para todos nós (a biodiversidade sustenta o funcionamento dos ecossistemas dos quais dependemos – alimentação, saúde, lazer, proteção contra tragédias naturais - e a sua perda também nos afeta cultural e espiritualmente). A boa notícia do artigo da Science é que houve alguns sucessos a nível local e nacional no combate à perda da biodiversidade, nos quais se incluem a designação de muitas áreas protegidas (ex. Parque Nacional de Juruena, no Brasil), a recuperação de determinadas espécies (ex. o Bisonte Europeu) e a prevenção de algumas extinções (ex. o Pernilongo da Nova Zelândia).

    “A Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas publicada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) considerou, em 2008, a existência de 159 espécies ameaçadas em Portugal, incluindo 16 espécies de plantas e 143 espécies de animais.
    Os peixes de água‑doce e peixes migradores são os dois grupos que apresentam as percentagens mais elevadas de espécies em risco (69%). Seguem ‑se as aves (38%), os répteis (32%), os mamíferos (26%) e os anfíbios (19%).” (Pinto et al., 2010) Sabe-se que 42% das espécies de vertebrados estão ameaçadas por fatores como a perseguição pelo Homem, a invasão de espécies exóticas, as doenças ou atropelamentos. (Fernandes, 2013) Ainda a ocorrência de fogos e a construção de barragens provocam a fragmentação e destruição dos habitats que contribuem para a perda de Biodiversidade.

    No caso concreto das barragens, elas podem ter impactos profundos sobre os ecossistemas terrestre, aquático e aéreo, podendo levar a transformações irreversíveis na biodiversidade local. A título de exemplo, de afetação provocada em ambiente aquático, refere-se os vários efeitos sobre a vida dos peixes. O primeiro e mais direto é a interferência na sua migração e procriação, pois as barragens alteram o fluxo dos rios e criam enormes barreiras físicas para o ciclo migratório e até mesmo para a sobrevivência das espécies. O segundo, a temperatura da água pode fazer com que algumas espécies simplesmente desapareçam por não se adaptarem às novas temperaturas. Há também a questão da concentração de poluentes nesses reservatórios que faz com que possa aumentar a variedade e quantidade de doenças nos peixes. Além disso, existe ainda a questão da introdução nestas águas de espécies exóticas, que competem com as nativas e provocam o desaparecimento das espécies do reservatório de água e consequentemente do próprio rio. (Embora a escadas para peixes possa ser usada como uma medida mitigadora - com eficácia questionada por especialistas-, raramente consegue evitar que as espécies nativas não desapareçam.)

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    1. A “nossa” barragem de Alqueva (Alentejo, Portugal) é um exemplo recente dos impactos de grandes barragens, inundou 25 000 ha, implicou o corte em massa de árvores e o desaparecimento de áreas essenciais à sobrevivência de várias espécies ameaçadas (lontra, águia de bonelli, cegonha negra, gato bravo, entre outros. Provocou ainda, a quase destruição da galeria ripícola do vale do Guadiana, importante corredor ecológico para a dispersão de muitas espécies. (ptMA, 2013)

      Os projetos de construção de barragens alegam ser em nome do denominado desenvolvimento sustentável, mas poderá um empreendimento que destrói paisagens e inúmeros habitats chamar-se de sustentável?


      Referências bibliográficas:

      CH (2013). Portal Ciência Hoje. Acedido a 10.04.2013 em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=42203&op=all

      Fernandes, Ana. Artigo Livro Vermelho sobre os vertebrados quase metade das espécies em Portugal está ameaçada, Público, 2006. Acedido a 10.04.2013 em http://www.publico.pt/autor/ana-fernandes

      Pinto, B. et al. (2010) Guia de campo - Dia B, BioEventos, pp 1-136

      ptMA (2013). Portal Millennium Ecosystem Assessment. Acedido a 10.04.2013, em http://ecossistemas.org/




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    2. Cara Adélia:
      Boa questão. Eu, no passado fui um dos grandes defensores de Alqueva. Como sabe estive até ligado à sua construção fundamentalmente porque ela poderia constituir uma importante "reserva estratégica de àgua" para o nosso Alentejo. Hoje, depois de conhecer mais profundamente estes assuntos (devido aos trabalhos em que estamos envolvidos) e da irreversibilidade de alguns dos impactos deste tipo de infraestruturas(e no caso de Alqueva estamos a falar de uma GRANDE infraestrutura) e do desenvolvimento do processo já não estou tão certo da minha posição.
      As perguntas que agora coloco a mim próprio são, Quais as alternativas a Alqueva? E ainda não encontro respostas...
      Esta reflexão é puramente pessoal não exigindo bibliografia que aliás não foi necessária,
      Cumprimentos,
      Manuel Mestre.

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