terça-feira, 30 de abril de 2013


Caro Vitor:

 

Mandaste-me uma interessante mensagem sobre a “campanha do trigo” e de Alqueva, aspetos importantes dos últimos anos do meu Alentejo. Tentei perceber onde tinha ido parar o comentário em questão, mas para além do meu correio não o consigo encontrar em nenhum local. Agora depois de enviar esta mensagem vou ao meu blog (mais uma vez) a ver se o localizo.

 

O problema do Alentejo começou, de facto com a chamada campanha do trigo. Não sei se poderia ter sido evitado mas mitigado com certeza que sim. Contudo a primeira e mais profunda "machadada" no ecossistema alentejano deu-se com o abate indiscriminado da floresta autóctone, com o abate de verdadeiros santuários reliquiais de sobreiros e principalmente de azinheiras, que foram dizimados para a mecanização dos amplos campos alentejanos preparando-os para a monocultura. Com esta prática a desertificação foi-se acentuando, a biodiversidade afetada e minguando e alguns dos nossos ex-libris foram desaparecendo (linces, aves carnívoras e outras, etc.). Quando abrimos os olhos e fomos postos perante a realidade já era um pouco tarde. Mas nem tudo está perdido, é preciso enfrentar as contrariedades e tentar reverter um pouco da situação. Hoje há bons exemplos de interessantes projetos que tentam recuperar alguma da diversidade perdida.

 

A questão de Alqueva foi, para os alentejanos de importância capital. Não sei se sabes mas eu fui um dos alentejanos que lutei pela sua construção. Na qualidade de presidente da Associação de Defesa de Alqueva bati-me na região, no país e inclusivamente em Bruxelas por ela. Hoje, depois de ter pensado maduramente sobre o assunto e das leituras que tenho feito sobre as questões da sustentabilidade e outras já não tenho tantas certezas. Mas quero também dizer-te que ainda não vejo alternativas à sua construção. Numa região com graves problemas de falta de água pareceu-me (no passado) quase criminoso não aproveitar o manancial que corria para o mar (não conhecia a fundo os problemas da sedimentação, dos peixes migradores, etc.) e a ideia do atual Presidente da República, de Alqueva como uma "Reserva Estratégica de Água" como muitas outras antes desta, construíram a minha aguerrida militância em torno da construção da barragem. Será que é a solução para o Alentejo? Como te disse anteriormente ainda não vejo alternativas...

Cumprimentos,

Manuel Mestre

sexta-feira, 19 de abril de 2013


Biodiversidade (estratégias de conservação)

Cara professora, caros colegas:

Á laia de introdução

A chamada de atenção da docente para o texto do professor Azeiteiro (2011) é extremamente pertinente, pois o mesmo, para além de ser muito completo remete-nos para informação de extrema importância. É certo que a maioria já era do nosso conhecimento mas a sistematização e concentração do professor facilita-nos o trabalho de recolha de informação.

Desenvolvimento da postagem

As Estratégias de Conservação da Biodiversidade exigem que se saiba o que conservar, como conservar e onde conservar. Estas são sempre decisões difíceis e de especial complexidade por vários e diversificados motivos, como os diferentes níveis de organização, as questões de dimensão, conectividade e gestão por vezes difíceis de obter. Cada espécie animal e vegetal tem as suas especificidades próprias. Por exemplo as espécies vegetais raras e os invertebrados e outras espécies animais de pouca mobilidade podem preservar-se em ecossistemas restritos e completamente rodeados por áreas não protegidas, (Azeiteiro, 2011, p.1) enquanto outros animais de grande mobilidade, como os carnívoros de topo necessitam de grandes espaços como reconhece Janeiro (2007, p. 14) em relação ao lince ibérico, que refere que cada adulto defende um território de 3-4 Km2 de outros indivíduos do mesmo sexo, apenas admitindo uma sobreposição maioritária de uma fêmea reprodutora, constituindo uma relação monogâmica com alguma tendência para a poligamia. Por este exemplo se vê as imensas dificuldades para manter uma colónia destes carnívoros. 

A conservação pode ser encarada sob dois aspetos: baseada em habitat ou ecossistema, isto é no espaço ou na espécie a conservar. As estratégias de conservação têm duas abordagens: hotspots de biodiversidade privilegiando áreas riquíssimas em diversidade específica, endemismos (espécies de seres vivos que apenas aparecem numa determinada zona geográfica) e espécies raras (25 áreas que correspondem a 1,4% da superfície do planeta que comportam 35% e 44% dos vertebrados e das plantas terrestres) (Myers et al. 2000, citado por Azeiteiro, 2011, p. 2) e em sistemas representativos que procuram assegurar e manter, no espaço geográfico de referência a representação de todas as espécies presentes, qualquer que seja o seu estatuto. Ambos os aspetos têm sido criticados por abordarem apenas padrões estáticos e não considerar as dinâmicas populacionais e comunitárias. (Azeiteiro, 2011, p. 2)

Desde a entrada de Portugal na UE, quer o nosso país (como todos os países do espaço comum) quer a Comunidade têm caminhado no mesmo sentido, tentando mitigar os efeitos da atividade humana (principal causa da perda de diversidade e dos serviços dos ecossistemas inestimáveis para o nosso viver coletivo) e até, como ocorre atualmente, tentar fazer regredir esses efeitos.

Em 2001, altos responsáveis dos países europeus determinaram que “o declínio da biodiversidade deve ser sustido, procurando atingir este objetivo até 2010” e que é necessário “recuperar habitats e sistemas naturais”. No ano seguinte, 130 líderes mundiais assumiram o mesmo compromisso, constatando-se por sondagens que estas preocupações com a natureza e a biodiversidade são acompanhadas pelos cidadãos comunitários. (CEE, 2006, p. 3).

Na União Europeia já está praticamente criada a legislação para impedir a perda de diversidade. Os objetivos de salvaguarda da biodiversidade foram encarados numa alargada geração de políticas ambientais e setoriais. Mas a estratégia da UE em termos de Diversidade Biológica remonta ao fim do século passado (1998) e aos correspondentes planos de ação (2001). Também os estados membros se mobilizaram e implementaram os seus planos de ação. (ibidem).

Até ao presente a biodiversidade não tem sido objeto de grande atenção no que se refere aos acordos comerciais, mas a UE tem contribuído para regular o comércio de espécies proibidas (com estatuto de conservação) e tem promovido sinergias com a Organização Mundial do Comércio no sentido de promover acordos multilaterais no domínio ambiental. A Convenção sobre a Diversidade Biológica tem merecido da Europa Comunitária um grande esforço no sentido da sua implementação bem como outros acordos relacionados com a biodiversidade. (ibidem)

A nível comunitário dá-se particular importância á salvaguarda dos habitats e espécies mais importantes estabelecidas nas Diretivas “Aves” e “Habitats”, diretivas que estão a ser implementadas em todos os países membros, como acontece naturalmente com todas as diretivas, criando-se aquilo que é normalmente designado por Rede Natura 2000, consistindo em sítios que comportem áreas “suficientes” para promover a conservação dos duzentos habitats-tipo mais importantes da UE. (ibidem, p.7)

A Diretiva 79/409/CEE de 02/04/1979 relativo à conservação das aves selvagens, vulgarmente designada por Diretiva “Aves” (a peça mais antiga da legislação de conservação da natureza da europa comunitária) pretende que cada Estado membro tome medidas tendentes a garantir a proteção das populações de aves selvagens no território da Europa Comunitária. Impõe a necessidade de estabelecer áreas suficientemente amplas para cada um dos habitats utilizados pelas espécies a proteger, cria condições para o comércio deste tipo de aves, fixa limites para a atividade venatória e proíbe alguns métodos de captura e abate. A diretiva inclui uma lista de aves europeias que necessitam de medidas de proteção e obriga cada Estado-membro a classificar como Zonas de Proteção Especial (ZPE) as áreas que se mostrem mais importantes para as espécies protegidas.

A generalidade dos princípios gerais desta diretiva foram transpostos para o direito português pelo Dec. Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, o que contribuiu para a criação de 47 ZPE em Portugal Continental, Açores e Madeira.

A Diretiva 92/43/CEE de 21/05/1992, mais conhecida como “Diretiva Habitats” tem como grande objetivo assegurar a biodiversidade recorrendo á conservação dos habitats naturais e de espécies florísticas e faunísticas selvagens ameaçadas no território comunitário. As Zonas Especiais de Conservação (ZEC) criadas em Portugal devido a esta diretiva têm como principal objetivo proteger os 253 tipos de habitats, 200 animais e 434 plantas constantes dos seus anexos, sendo a principal finalidade desta rede (em conjunto com a anterior) manter e recuperar habitats e espécies.

Contudo há investigadores que defendem que nem tudo vai bem nesta estratégia de criação de zonas de conservação. Há investigadores, como por exemplo o professor Miguel Araújo que defendem que os sítios foram mal escolhidos e não tiveram em conta, por exemplo, as alterações climáticas, havendo um risco elevado dos esforços que hoje estamos a desenvolver para conservar a biodiversidade europeia não obterem os resultados que pretendemos. Segundo aquele reputado biólogo são necessárias novas politicas para evitar este risco. (Araújo, M., et al. 2011)  

Outra geração de documentos comunitários conexos com a proteção da biodiversidade (onde a UE tem vindo a trabalhar desde a década de setenta, para implementar a CDB e estratégias correlativas) são os documentos designados como Estratégicos alguns derivados de documentos produzidos por organismos mundiais, mais tarde adotados e adaptados pelos países-membros. É o que acontece com os três documentos apresentados seguidamente e colocados neste trabalho a título de exemplo.

A Estratégia da União Europeia para o desenvolvimento sustentável que estabelece um marco político ao definir como meta o desenvolvimento sustentável, isto é, responder às necessidades do presente sem comprometer as das futuras gerações. O desenvolvimento sustentável assenta em quatro pilares – económico, social, ambiental e governança mundial- que devem reforçar-se continua e mutuamente. Este documento põe em evidência sete tendências de insustentabilidade que requerem a intervenção dos poderes públicos (e não só): a exclusão social e o envelhecimento demográfico, as alterações climáticas e a energia, os transportes, o consumo e a produção, os recursos naturais, a saúde e o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.

Estratégia Europeia de Diversidade Biológica, concertada em1998, a Comissão refere a perda de diversidade biológica (espécies, ecossistemas e património genético) que acelerou nas últimas décadas a um ritmo alarmante devido á atividade humana, principalmente devido a práticas agrícolas desadequadas, ao desregulado desenvolvimento de infraestruturas e de urbanização, ao turismo de massas e á poluição da água e do ar. Para promover a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica defende a conservação in situ (no sitio natural) e ex situ (fora do sítio, isto é em banco de genes, laboratórios e parques zoológicos e botânicos), bem como a reconstituição de populações e ecossistemas e ainda a proteção das espécies cultivadas ou domesticadas que adquiriram especiais características genéticas.

Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (de 2006, mas publicada em D.R. em Agosto de 2007) é um documento nacional de orientação estratégica que visa orientar o desenvolvimento do país na senda da sustentabilidade, recorrendo a todos os instrumentos disponíveis ou em preparação, recorrendo á iniciativa da sociedade civil e aos fundos comunitários. Assente num ambicioso desígnio que infelizmente se degradou, “retomar a trajetória de crescimento sustentado que torne Portugal, no horizonte de 2015, num dos países mais competitivos e atrativos da União Europeia, num quadro de elevado nível de desenvolvimento económico, social e ambiental e de responsabilidade social” a Estratégia assentava em sete objetivos de ação: Preparar Portugal para a Sociedade do Conhecimento; Crescimento Sustentado, Competitividade à Escala Global e Eficiência Energética; Melhor Ambiente e Valorização do Património; Mais Equidade, Igualdade de Oportunidades e Coesão Social; Melhor Conetividade Internacional do País e Valorização Equilibrada do Território; Um Papel Ativo de Portugal na Construção Europeia e na Cooperação Internacional e Uma Administração Pública mais Eficiente e Modernizada.  

Referências do Texto

Araújo, M., Alagador, D., Cabeza, M., Nogués-Bravo, D., Thuiller, W. (2011). Climate change threatens European conservation áreas. Ecology Letters, 14: 484-492.

Azeiteiro, U. (2011). Conservação da biodiversidade. Universidade Aberta.

Comissão das Comunidades Europeias. (2006). Comunicação da Comissão. Travar a perda da Biodiversidade até 2010-e mais além. Preservar os serviços ecossistémicos para o Bem-estar humano.

Dec. Lei n.º 140/99 (1999). Transpõe para o direito português alguns dos princípios gerais da diretiva n.º 79/409/CEE.

Diretiva do Conselho n.º 79/409/CEE. (1979), Relativa à conservação das aves selvagens.

Diretiva do Conselho n.º 92/43/CEE. (1992), Relativa á preservação de habitats naturais e da fauna e da flora selvagens.

Estratégia Europeia para o Desenvolvimento Sustentável.

Estratégia Europeia de Diversidade Biológica.

Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável.

Janeiro, C. (2007). Adequabilidade e perspetiva de gestão do habitat para o lince ibérico Lynx pardinus no sítio Moura-Barrancos, Dissertação de Mestrado em “Gestão de Recursos Biológicos”, Universidade de Évora, Portugal.

Site da Rede Natura 2000, Zonas de Proteção Especial (Diretiva aves). Fonte ICNB

sábado, 13 de abril de 2013


Curiosidades para Portugal

Atualmente, para Portugal Continental, estão identificadas e registadas mais de 400 espécies de vertebrados terrestres, estimando-se que existam aproximadamente 3000 espécies vegetais. No nosso país encontram-se classificadas 72 espécies de mamíferos (60 protegidas e 17 ameaçadas), 246 de aves (237 protegidas e 76 ameaçadas), 28 de répteis (integralmente protegidas e 7 ameaçadas), 16 de anfíbios (também todas protegidas e 2 ameaçadas) e 33 de peixes de água doce (também integralmente protegidas e 21 ameaçadas). O número total das espécies listadas é de: 92 mamíferos, 288 aves, 35 répteis, 17 anfíbios e 48 peixes dulçaquícolas. (Cabral et al, 2005, citado por Proença, V. et al, 2009, p. 132). No que respeita à flora estima-se que existam 3000 espécies de plantas vasculares: 86 endémicas (grupos de plantas que se desenvolvem numa região restrita), encontrando-se aproximadamente 10% ameaçadas e 4% protegidas (Pereira et al, 2002; IA e MAOT, 2005, citado por Proença, et al, 2009, p.133). Para outros grupos a informação é muito escassa e apesar de haver alguns estudos não se publicou nada de significativo, pelo que não merecem referências especiais.

Referência Bibliográfica:

Proença, V. et al. (2009) “Biodiversidade” pp. 127-179. In Ecossistemas e Bem-estar humano – Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment, Escolar Editora.

Biodiversidade (ameaças, continuação):

Cara docente, caros colegas:

O meu primeiro comentário sobre as ameaças á biodiversidade foi colocado no blog em virtude da calendarização inicial, que nos obrigava a fazê-lo numa data anterior. Como agora existe uma nova calendarização, recorri a alguma da bibliografia que a professora disponibilizou e vou ampliar o meu comentário, agora praticamente referente apenas a Portugal.

Várias são as dinâmicas que direta ou indiretamente contribuíram para a diminuição da biodiversidade em Portugal, quase todos já indicados na mensagem anterior. Contudo, Proença, 2009 (pp. 133 a 141) descreve a situação portuguesa de uma maneira muito peculiar, a seguir apresentada resumidamente. Convém dizer que grande parte das dinâmicas a referir são de origem antropogénica, o que atesta bem a importância das medidas corretoras para mitigar a depleção de recursos.

1.Dinâmicas diretas

1.1.Alterações ao uso do solo

No século XIX e na primeira metade do século XX, a área agrícola foi sucessivamente ampliada (Daveau, 2000, citado por Proença et al, 2009, pp.133 e 134) o que foi a principal causa de destruição do habitat natural. Esta destruição foi responsável pela afetação da diversidade biológica, principalmente ao nível dos predadores de topo que necessitam de condições especiais e grandes espaços intocados ou pouco intervencionados pelo homem. O conflito entre as populações rurais e aqueles predadores (lince ibérico, lobo, gato bravo, etc.) conduziu à destruição dos seus habitats. Por outro lado a desadequada política agrícola do Estado Novo nos primeiros cinquenta anos do século XX, com duas medidas que causaram o declínio rural de Portugal, principalmente a segunda e que foram as principais agentes para a litoralização do país: a Norte a florestação dos incultos de montanha e a Sul a chamada campanha do trigo, ambas responsáveis por profundas alterações e ao abandono da atividade agrícola. (Proença et al, 2009)

1.2.Florestas

Nos últimos anos temos assistido ao aumento da área florestal à base de espécies de crescimento rápido (eucalipto e pinheiro) favoráveis às indústrias de papel. Entre 1974 e 2001 o crescimento da floresta foi de 5,2% assente na expansão do eucalipto, que até 2001 teve um aumento de 174% e nesta data representava 21% da floresta nacional. (DGF, 2001, citado por Proença et al, 2009, p. 135). O eucalipto tem sido objeto de grande polémica no meio científico (e não só), mas não restam muitas dúvidas que as florestas de eucalipto diminuem a diversidade biológica. Basta observar o subcoberto vegetal que as acompanha.

1.3.Barragens

As barragens são obstáculos à biodiversidade. Podem contribuir para a destruição de habitats, funcionam como barreiras por vezes intransponíveis para as espécies migradoras (como o sável e a lampreia, entre outros), propiciam o florescimento de espécies invasoras e “cortam” o transporte de sedimentos para os estuários dos rios que são dos ecossistemas mais produtivos. Em Portugal há 900 barragens e estão projetadas dez (INAG, 2007, citado por Proença et al, 2009, p. 135). Contudo não podemos omitir que a instalação de barragens em zonas protegidas tem sido responsável pela degradação de valiosos ecossistemas, por muito importantes que elas sejam para o “desenvolvimento” da espécie humana.

1.4. Rede viária

A rede viária, importante para a mobilidade humana, é outro fator condicionante da diversidade, principalmente as autoestradas pois fragmentam os habitats naturais e afetam alguns grupos, como os invertebrados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos (Ascensão e Mira, 2006, citado por Proença et al, 2009, p. 136). As estradas podem dispersar e isolar populações, num caso e noutro conduzindo à perda de diversidade e à inviabilidade e sustentabilidade das espécies. Por outro lado a mortalidade animal devido ao tráfego (atropelamento) constitui uma ameaça séria. A título de exemplo, poderia referir que o último lince ibérico de que há notícia na região de Moura foi atropelado na zona Safara/Sobral da Adiça há já alguns anos.

1.5. Os fogos

Ultimamente, os fogos têm contribuído para a destruição de vastas zonas do território nacional, com o consequente empobrecimento da diversidade. O abandono dos campos e o regime da monocultura do eucalipto e do pinheiro, espécies de alto poder combustível têm conduzido à delapidação do nosso património natural. Contudo deve referir-se que quando natural e controlado pode ser benéfico para a diversidade, criando condições para o desenvolvimento sustentável das espécies. (Proença et al, 2009)

1.6.Poluição

A poluição resultante da expansão das áreas urbanas, do desenvolvimento industrial e da utilização inadequadas do solo agrícola é, neste momento, um dos problemas mais significativos para a diversidade biológica. A poluição das águas superficiais é devida, principalmente, ao escoamento de excedentes agrícolas de rega bem como de descargas de efluentes domésticos e industriais que pode conduzir á eutrofização das águas e a outros problemas como a bioacumulação, que ao atingir concentrações elevadas nos organismos põe em risco a sua saúde. No nosso país são as águas interiores (bacias hidrográficas) as mais afetadas, o que é muito preocupante, pois estes locais são o habitat preferencial de algumas espécies com grande importância conservacionista. Também as águas costeiras estão sob forte ameaça, pois para além das fontes poluidoras já referidas podem ser afetadas pelos derrames de petróleo e abandono de plásticos e de outros detritos, que não só pioram a diversidade como a põem em causa a sobrevivência de muitas das espécies marinhas. (Proença et al, 2009, pp. 136 e 137)

Também a poluição do ar concorre negativamente para a biodiversidade, parecendo afetar mais as plantas que os animais, particularmente os organismos de complexidade reduzida, sendo nas áreas urbanas e densamente povoadas que a qualidade do ar atinge níveis preocupantes (IA, 2005, citado por Proença et al, 2009, p. 138)

1.7.Sobreexploração de recursos animais

A sobreexploração dos recursos (águas marítimas e interiores, áreas agrícolas e florestais) tem especial significado na diminuição da diversidade. Embora a diminuição do volume de pescado que Portugal tem concretizado ultimamente-9% entre 2000 e 2005 - (INE, 2003 e INE, 2005) a sobre pesca está a colocar em risco várias espécies capturadas em Portugal, como o tamboril, a pescada e o lagostim. Também nos estuários dos rios, as espécies migrantes entre água salgada e doce (diádromos) e nos rios se faz sentir este problema, quer pela sobre pesca quer pela alteração dos habitats. A caça, embora fortemente legislada e fiscalizada é objeto de furtividade e o envenenamento de animais e a captura de espécies protegidas também contribuiu para a delapidação de recursos. (Proença et al, 2009)

1.8.Espécies invasoras

Tal como acontece em todo o mundo, Portugal também sofre deste problema constituindo já um grave problema ambiental. As espécies invasoras (não nativas) são as que conseguem reproduzir-se num ambiente onde foram introduzidas, provocando, por vezes, alterações importantes nesse ambiente. (Mooney e Hobbs, 2000, citados por Proença et al, 2009, p. 139). Quatrocentas espécies de plantas foram introduzidas no nosso país, 27 das quais já são consideradas invasoras, enquanto nos animais se destacam o lagostim vermelho, a gambusia e a perca sol. (Proença, 2009). Lamentavelmente não são referidos por Proença o achigã que afeta os rios e barragens de quase todo o país há muitos anos e a perca-lúcio, um hibrido que recentemente tem uma cada vez mais acentuada presença na bacia do Guadiana.

2. Dinâmicas indiretas.

As dinâmicas indiretas não sendo menos importantes que as diretas, parecem à partida mais controláveis, não só por não afetarem diretamente os ecossistemas mas também por dependerem de políticas mais ou menos recentes, cujos efeitos podem ser interiorizadas e facilmente alteradas. As questões demográficas (as menos fáceis de inverter), a integração política regional de Portugal e as suas políticas comuns, bem como a alteração de valores culturais e fenómenos de consciencialização social, que sendo, estes últimos, processos lentos, podem todos ser causa de importantes alterações. (Proença et al, 2009, p.133)

Referência Bibliográfica:

Proença, V. et al. (2009) “Biodiversidade” pp. 127-179. In Ecossistemas e Bem-estar humano – Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment, Escolar Editora.

domingo, 7 de abril de 2013


Biodiversidade (ameaças)

O conceito de biodiversidade aparece pela primeira vez em 1980, veiculado por biólogos e outros naturalistas, que já se mostravam apreensivos com a alarmante destruição da natureza e da urgência de se tomarem medidas urgentes para proteger o património natural. Contudo o termo só foi consagrado em 1992 na Conferência do Rio de Janeiro, também designada como Cimeira da Terra. (Costa, s.d.)

Sabemos e é repetido todos os dias que a biodiversidade está hoje mais ameaçada que nunca em qualquer outro período da história, estimando-se que, aproximadamente onze mil espécies estão em risco de desaparecer nos próximos anos (como referiu e bem a C.E. numa comunicação ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre os Planos de Ação da biodiversidade, no que respeita à conservação dos recursos naturais, da agricultura, das pessoas e da cooperação económica para o desenvolvimento, 2001, página 1, tendo como suporte um levantamento datado de 2000 e elaborado pela União Mundial para a Conservação – UICN). Esta ameaça que se estende a todo o planeta de uma maneira diferenciada, verifica-se também na Europa (particularmente na Península Ibérica que constitui um importante santuário de diversidade biológica para toda a Europa Comunitária), onde, nas últimas décadas se assistiu a uma grande diminuição dos recursos naturais, que afetou muitas espécies e habitats. (MAOT,2001).

Porque estamos a perder a diversidade biológica? Grande parte dos autores consultados são unanimes em referir algumas ameaças, como:

·         A utilização e sobre-exploração de recursos

·         Impacto crescente das alterações climáticas (GEE) e suas implicações

·         A fragmentação e destruição de habitats (nomeadamente devido ao aumento da demografia)

·         A poluição

·         A introdução de espécies exóticas (ou alóctones invasivas)

A U.E. tem assumido importantes posições para inverter o processo de degradação ambiental. Os responsáveis políticos dos países membros acordaram em 2001 “que o declínio da biodiversidade deve ser estancado, procurando alcançar este objetivo até 2010”. A Europa Comunitária já criou alguns mecanismos para travar a perda da biodiversidade integrados na Estratégia de Desenvolvimento Sustentável, bem como uma vasta gama de políticas setoriais e ambientais. (CE, 2010)

As duas primeiras ameaças indicadas anteriormente são particularmente importantes para o espaço europeu. Os estados membros são responsáveis pela reversão, recorrendo a um melhor planeamento das especificidades na utilização do recurso solo, á conservação da biodiversidade e á continuação do usufruto dos serviços dos ecossistemas. O impacto crescente das alterações climáticas na biodiversidade obriga a assumir medidas eficazes no que respeita à emissão de GEE, eventualmente promovendo medidas mais restritas do que preconiza o Protocolo de Quioto. (CE,2010).

A crescente pressão humana sobre o planeta devido ao crescimento exponencial da população mas também às suas necessidades cada vez maiores, origina talvez a ameaça mais grave à diversidade biológica que é a fragmentação dos bosques, zonas húmidas, recifes de coral e outros ecossistemas, (AIDB,2010) como as terras de cultivo. O habitat natural solo vai sendo afetado pela sua inclusão como terreno cultivado e pastoreado, enquanto os sistemas fluviais são alterados para instalar sistemas de rega ou de regulação de caudais e barragens. (WWF,2010) Por outro lado a expansão urbana e industrial está a levar muitas espécies à extinção. Todos os anos desaparecem 17 milhões de hectares de floresta tropical, o que poderá levar, se esta situação se mantiver, à extinção de 5 a 10% das espécies que habitam neste ecossistema nos próximos trinta anos. (Biodiversidade, s.d.).

A poluição entendida em sentido lato (solo, ar, água) é outra das principais ameaças à biodiversidade. Progressivamente, o oxigénio tem vindo a ser afetado pela excessiva dosagem de nutrientes resultantes da crescente utilização de compostos nitrogenados e fosfatados na agricultura, bem como a contaminação por produtos químicos usados em atividades antrópicas. Outra vertente importante da poluição é a que resulta da atividade industrial e mineira, enquanto a crescente presença de dióxido de carbono na atmosfera está a causar a acidificação dos oceanos, o que poderá ter importantes consequências, nomeadamente causando problemas aos sistemas que constroem as conchas e os recifes. (WWF,2010)

As espécies alóctones invasivas (ou exóticas invasoras) são também uma enorme ameaça em crescimento acelerado para a diversidade autóctone na Europa e no Mundo. Espécies naturais (vegetais e animais) que quer por mecanismos naturais ou pela ação do homem (pelo alargamento intercontinental das atividades comerciais, turísticas e do transporte de mercadorias, etc.) podem fixar-se em habitats que lhe são estranhos e afetar a diversidade biológica e o ambiente, podendo ainda assumir impactos sociais e económicos, na saúde das comunidades, na pesca, na agricultura e na produção alimentar. Atualmente a U.E. gasta, pelo menos doze mil milhões de euros para controlar e reparar os danos decorrentes das exóticas (ou invasoras). A rápida deteção deste perigo potencial é muito importante, porque é mais fácil e barato combater as espécies na altura da instalação ao mesmo tempo que a sensibilização do público para este problema é também fulcral para vencer esta ameaça. (CE,2009)

A Agencia Europeia do Ambiente (AEA) refere que o número de espécies invasivas está a aumentar e pode ocasionar grandes danos nas espécies autóctones para além de afetar a saúde humana, constituindo, por isso, uma grande ameaça à biodiversidade. Há 395 espécies originárias da Europa classificadas com “criticamente em riscos de extinção”, na lista vermelha das espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, das quais 101 estão nesta lista devido às espécies invasoras. O facto de poderem ser portadoras de doenças é um perigo para os seres humanos e para outros seres vivos. É o caso do mosquito tigre que se supõe transmitir vinte doenças diferentes ou a ambrosia-gigante que é responsável por algumas alergias, como a febre-dos-fenos. Na Europa há atualmente mais de dez mil espécies exóticas das quais 15% têm um impacto ecológico e económico negativo. Mas nem todos os efeitos dos invasivos são negativos: a batata, por exemplo, que como sabemos veio do outro lado do Atlântico mudou os hábitos alimentares dos europeus, tal como aconteceu com o tabaco que também alterou os nossos hábitos, mas neste caso com as consequências funestas que se conhecem.

 

Referências Bibliográficas:

Año Internacional de la Diversidad Biológica, (2010). http://www.un.org/es/events/biodiversity2010/loss.stml, consultado em 04/04/2013

Biodiversidade, (s.d.). http://www.vivaterra.org.br/vivaterra_biodiversidade.htm, consultado em 04/04/2013

C.E.E. (2006). Comunicação da Comissão. Travar a perda da Biodiversidade até 2010-e mais além. Preservar os serviços ecossistémicos para o bem-estar humano

Comissão Europeia, (2009). Natureza e biodiversidade. Espécies Alóctones Invasivas.

Costa, M. J. (s.d.) Biodiversidade. Instituto de Oceanografia

Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. (2001). Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Recursos educativos, (2013). http://actividadesonline.blogspot.pt/2013/02/especies-exoticas-invasoras-sao-um.html. Consultado em 05/04/2013

WWF, Amenazas. (2010). http://www.wwf.es/que_hacemos/especies/biodiversidad_20102/amenazas/. Consultado em 05/04/2013