Caros colegas:
Ao ler um jornal diário deparei com algumas notícias interessantes sobre biodiversidade. São elas:
1. Foi formalizada a criação do primeiro parque natural internacional da Europa, o Parque Internacional Tejo/Tajo em Portugal/Espanha.
2. Uma equipa de cientistas publicou um estudo que considera a possibildade de mais de metade das plantas e um terço dos animais entrarem em declinio devido á subida de temperatura. O estudo foi publicado na revista "Nature Climate Change".
3. A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais) elaborou um relatório no qual afirma que "os países europeus têm de fazer mais para proteger a biodiversidade". Esta organização estudou as plantas e animais ameaçados da Europa concluindo que a Espanha é o país mais ameaçado pois comporta 22% das espécies em risco de extinção. O segundo país da lista é Portugal uma vez que 15% das espécies existem no nosso país. Entre as espécies mais ameaçadas aparece a foca-monge (que tem o seu habitat nas Ilhas Desertas- Madeira), a baleia-franca-do Atlântico-Norte (Açores) e o carismático (para mim já se vê) lince ibérico (que também tem o seu habitat histórico, aqui, na minha região).
Felizmente, no que ao lince diz respeito, já estão no terreno vários projetos de recuperação de habitats e populações. Segundo li algures, no Centro de Recuperação de Silves (não sei o nome oficial) nasceram 11 animais, nos últimos tempos, o que constitui uma boa notícia.
domingo, 19 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
Caros colegas:
Hoje fui surpreendido com uma boa notícia. Provavelmente vocês já sabem da novidade: O museu da Comunidade Concelhia da Batalha venceu hoje o prémio Kenneth Hudson do Forum Europeu dos Museus (European Museum Forum - EMF).
Eu não conheço o espaço, mas há duas ou três coisas que me agradaram no que li e ouvi.
1.O museu é um espaço de inclusão. Todos, mas mesmo todos podem usufruir das suas potencialidades: invisuais, surdos, cidadãos em cadeira de rodas, etc podem percorrer o espaço pois possuem condições, que eles mesmo testaram previamente para o visitarem.
2. Para além do que normalmente se vê num museu (coleções de história da presença do homem), este possui um programa de apoio á biodiversidade, desenvolvido por especialistas, no sentido de contribuir para a preservação do meio ambiente e sensibilizar as gerações de hoje para a preservação e garantia do futuro sustentável para as gerações que se sucederem á nossa.
3. Por outro lado, leva-nos a percorrer a história natural da região dos últimos 250 milhões de anos até ao século XIV, abordando a geologia e paleontologia do território.
Parece-me um espaço de grande interesse, não só pela abordagem que faz á história do homem na região, mas também pela relação com a abordagem dos problemas da biodiversidade e da geodiversidade. Na primeira oportunidade visitá-lo-ei.
Cumprimentos,
Manuel Mestre.
Hoje fui surpreendido com uma boa notícia. Provavelmente vocês já sabem da novidade: O museu da Comunidade Concelhia da Batalha venceu hoje o prémio Kenneth Hudson do Forum Europeu dos Museus (European Museum Forum - EMF).
Eu não conheço o espaço, mas há duas ou três coisas que me agradaram no que li e ouvi.
1.O museu é um espaço de inclusão. Todos, mas mesmo todos podem usufruir das suas potencialidades: invisuais, surdos, cidadãos em cadeira de rodas, etc podem percorrer o espaço pois possuem condições, que eles mesmo testaram previamente para o visitarem.
2. Para além do que normalmente se vê num museu (coleções de história da presença do homem), este possui um programa de apoio á biodiversidade, desenvolvido por especialistas, no sentido de contribuir para a preservação do meio ambiente e sensibilizar as gerações de hoje para a preservação e garantia do futuro sustentável para as gerações que se sucederem á nossa.
3. Por outro lado, leva-nos a percorrer a história natural da região dos últimos 250 milhões de anos até ao século XIV, abordando a geologia e paleontologia do território.
Parece-me um espaço de grande interesse, não só pela abordagem que faz á história do homem na região, mas também pela relação com a abordagem dos problemas da biodiversidade e da geodiversidade. Na primeira oportunidade visitá-lo-ei.
Cumprimentos,
Manuel Mestre.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Estratégia de geoconservação.
Geoparques e Geoturismo.
1.Introdução.
Apreciar
a natureza é coisa antiga. Praticamente desde que existem registos escritos que
podemos encontrar referências mais ou menos elogiosas á natureza, que por vezes
ultrapassam a visão utilitarista. Contudo, estas referências raramente abordam
conceitos geológicos, fundamentalmente porque estes só começaram a ganhar
espaço entre o fim do século XVIII e o início do século XIX. Manda a verdade
que se afirme que desde meados do século XIX que existem alguns autores que
escreveram apreciativamente sobre o meio abiótico chegando a revelar algumas
preocupações com a sua conservação. Após o final da Segunda Guerra Mundial
houve grandes transformações, inicialmente incipientes, mas que foram
acelerando e transformaram-se numa verdadeira revolução a partir da década de
sessenta, alterando radicalmente velhos conceitos e criando novos paradigmas.
Entre estes está o que simplisticamente apelidamos de “consciência ecológica”,
incluindo, entre outros aspetos, a valorização da conservação e o uso racional,
tendencialmente sustentável, do ambiente. Esta visão já se cimentou, há várias
décadas no que se refere á biodiversidade; já quanto á geodiversidade só
recentemente ganhou a sua carta de alforria. (Mantesso-Neto, V., s.d.)
Finalmente está a considerar-se e a entender-se algumas das ideias atribuídas
(parece que erradamente) ao chefe Seattle, no final do século XIX: “Somos parte
da terra e ela é parte de nós… De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao
homem: é o homem que pertence á terra. (Seattle, 1854, citado por Mantesso-Neto,
V., s.d.)
No
que respeita a Portugal, as primeiras preocupações de que há notícia com a Proteção
da Natureza datam de 1911, ano em que foi criada a Associação Protetora da
Árvore, pequena associação privada, criada para a preservação de exemplares
notáveis de árvores (Neves, 1970, citado por Brilha, 2005). Face aos objetivos
não estranha que este movimento tenha sido liderado por engenheiros
silvicultores, se bem que tenha evoluído para a proteção da natureza,
considerando a necessidade de proteger tanto os valores biológicos como os
geológicos. De acordo com Flores (1939), citado por Brilha, entre a época
medieval e o século XVIII a proteção da natureza era principalmente
utilitarista; a partir do século XIX passou a ser considerada esteticamente; no
século XX os critérios passaram a ser científicos. (Brilha, 2005)
2.Estratégia de geoconservação.
Tal
como aconteceu com o termo Geodiversidade, devido a ser um termo relativamente
recente, também no que respeita á Geoconservação não há muito consenso no que
respeita à sua definição. Sharples (2002), citado por Brilha (2005) tenta
concertar uma definição de geoconservação, como segue: A Geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade
natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos geológicos
(substrato), geomorfológicos (forma da paisagem) e de solo, mantendo a evolução
natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e processos. Esta visão
de geoconservação é consentânea com a definição de geodiversidade que
apresentei no “post” anterior (conceito de geodiversidade) sendo fundamental
para a biodiversidade e também porque a geodiversidade possui valor intrínseco,
isto é, valor por si próprio, mesmo que não se encontre ligado a qualquer forma
de vida. Em sentido lato, a geoconservação tem como objetivo a gestão
sustentável e a utilização de toda a geodiversidade, considerando todos os
recursos geológicos. Restritamente aponta apenas para a conservação de alguns
elementos da geodiversidade que testemunham valor acima da média. Uma coisa é
estabelecer ações para garantir a gestão sustentada dos recursos geológicos,
outra, bem diferente, consiste na concretização de ações que possibilitem a
conservação de aflorações geológicas possuidoras de indesmentível valor
científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outros, os geossítios. São o conjunto destes que habitualmente se designa
por Património Geológico. (Brilha,
J., 2005)
Para
montar a rede de geossítios é necessário:
Começar
por proceder á sua inventariação (levantamento
sistemático da área, identificação das ocorrências, definição da tipologia,
referenciação geográfica e fotográfica, breve caracterização de campo);
Seguidamente
fazer a quantificação (com base numa
escala de 1 a 5) dos critérios
relevantes, ou intrínsecos (inerentes ao próprio sítio);
Depois indicar os critérios relacionados com o uso potencial do geossítio (possibilidade de realizar atividades e quais,
condições de observação de aspetos particulares, possibilidade de recolher
amostras geológicas, facilidade/dificuldade de acesso, proximidade de
habitações c/ número de habitantes e condições socioeconómicas do meio);
Estabelecer
os critérios relacionados com a
necessidade de proteção (ameaças atuais e potencial, situação atual,
relação com a exploração mineira, valoração dos terrenos, tipo e regime de
propriedade, eventuais fragilidades);
Definir
possíveis processos de classificação (enquadramento
legal e estatuto-nacional, regional ou local). (Adaptado de Brilha, 2005)
Uma
vez estabelecidos os vários geossítios é necessário proceder á sua conservação, avaliando continuamente a
sua vulnerabilidade face á degradação introduzida por fatores naturais ou
antrópicos e proceder á sua valorização
e divulgação. Entende-se por valorização
as ações propostas para informar e interpretar e que vão ajudar os futuros
visitantes a compreender os valores em causa enquanto a divulgação pode ser promovida recorrendo a ações especificas,
conjugadas com outras tendentes a
promover o património cultural e natural. (Adaptado de Brilha, 2005)
Finalmente
é necessário fazer a monitorização
periódica, criando estratégias que permitam quantificar a evolução ao longo dos
anos (perda ou ganho de relevância) e definindo ações de manutenção que
fortaleçam a sua inserção no meio. (Adaptado de Brilha, 2005)
3. Geoparques.
A
noção de geoparque é um conceito muito recente (2000) e não é um parque no
verdadeiro sentido do termo nem estritamente geológico, tendo contudo uma
componente geológica, materializada nos geossítios, que constituem afloramentos
com valores abióticos especiais, tal como indicado no ponto anterior. O
geoparque é um conceito filosófico “holístico de respeito, valorização e
conservação da natureza”, assente nas suas componentes geológicas e constitui
um território geograficamente definido, com vários geossítios. (Mantesso-Neto,
V., s.d.)
A
Europa criou em 2000 uma Rede de Geoparques (REG), formada por quatro
geoparques, rede apoiada pela UNESCO a partir de 2001. Atualmente esta REG
distribuiu-se por dezassete países com 43 geoparques. Também já está instalada
a Rede Global de Geoparques (RGG), criada em 2004, também com o apoio da
UNESCO, tendo como principal objetivo a integração de todos os geoparques
existentes no mundo. Em Portugal há várias zonas de interesse em termos de
geodiversidade. Devido á limitação de espaço vou referir apenas dois, o
Naturtejo e o Arouca, existindo outros projetos com interesse e em instalação.
O Geopark Naturtejo da Meseta Meridional foi o primeiro geoparque nacional e
integrou em 2006 as Redes Europeias e Global de Geoparques. A sua área é de
4616 km2, nos concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova, Nisa,
Oleiros e Vila Velha de Ródão e as suas prioridades são a geoconservação, a
educação, o geoturismo, tendo como base um património geológico incomparável. (Geopark
Naturtejo)
Também
o Arouca Geopark é um território especial da REG e da RGG (2009). Está presente
num único concelho com uma área de 328 Km2, reunindo neste espaço um valioso
património geológico, importantes recursos biológicos e vestígios patrimoniais
históricos e culturais. Território de mistério e aventura, abarcando os fundos
dos vales dos rios Arda e Paiva com cotas inferiores a duzentos metros e os
topos das serras da Freita e de Montemuro com mais de mil metros de altitude é
guardião das maiores trilobites conhecidas e das misteriosas “pedras
parideiras” para além doutras preciosidades que constituem objetivos
primordiais, como a frecha da Mizarela a mais alta queda existente em
território português continental sendo um dos geossítios mais extraordinários
do Arouca Geopark. (Carmona, P., 2013)
4.Geoturismo.
O
geoturismo, tal como todos os anteriores conceitos é uma nova modalidade, neste
caso do turismo, praticado em geoparques (agregação de geossítios). Foi
definido, pela primeira vez, por Thomas Hose numa revista da especialidade,
como: “a provisão de serviços e facilidades interpretativas que permitam aos
turistas adquirirem conhecimento e entendimento sobre a geologia e
geomorfologia de um sítio (incluindo sua contribuição para o desenvolvimento
das Ciências da Terra), além da mera apreciação estética (Hose, 2008, p, 221,
citado por Lopes, L., 2011). Segundo Gates, 2008, p. 157 (citado por Lopes, L.,
2001) “geoturismo é um termo novo para uma ideia relativamente antiga e como
tal apresenta definições conflituantes”. Como conceito relativamente recente
existem várias controvérsias sobre o termo, mas a maior parte dos pesquisadores
concorda que o prefixo “geo” se refere à geologia, sendo que o geoturismo é uma
atividade turística com o foco nos locais de interesse geológico. Este recente
segmento turístico promove a educação ambiental (integrando observações da
biodiversidade, geodiversidade e património histórico e cultural, sempre que
existam) por meio de atividades de interpretação, recorrendo a vários meios e
potenciando o desenvolvimento sustentável das populações autóctones. (Lopes,
L., et al, 2011)
Referências Bibliográficas:
Brilha,
J., (2005). Património Geológico e
Conservação. A Conservação da Natureza na sua vertente Geológica. Palimage,
Imagem Palavra. Braga.
Carmona,
P., (2013). National Geographic, Portugal.
O Trilho da Terra
Estratégias
de geoconservação. Adaptado de Brilha (2005)
Lopes,
L., Araújo, L., Castro, A. (2011). Geoturismo: Estratégia de Geoconservação e
de Desenvolvimento Local. Caderno de
Geografia. v.21, n.º 35.
Mantesso-Neto,
V. (s.d.). Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo, Património Geológico,
Geoparques: Novos conceitos nas geociências do século XXI. Conselho Estadual de
Monumentos Geológicos, SP – virginio@uol.com.br. Acedido em 14/05/2013.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Conceitos, Critérios de Valorização e Ameaças á
Geodiversidade
As
áreas protegidas constituem cerca de 8% do território nacional. Oito delas são
classificadas pelo seu valor geológico/geomorfológico, possuindo grande parte
das áreas classificadas importantes referências geológicas, sendo o nosso país
detentor de significativos aspetos geológicos diversificados e em muitos casos,
únicos. Face a estas evidências deve reconhecer-se a geologia como uma
importante referência nos critérios de definição de áreas e sítios protegidos,
bem como conhecer, valorizar e divulgar o património geológico e ainda
valorizar a geoconservação na prossecução do desenvolvimento sustentável a
todos os níveis, mundial, regional, nacional, municipal e local. (Cunha, P.,
s.d)
Geodiversidade
é um termo muito recente e pouco conhecido junto da comunidade, não tendo
reconhecido o mesmo estatuto que o homólogo referente á vida e já estudado por
nós nesta UC, a biodiversidade. De acordo com Gray (2004), citado por Brilha
(2005), o termo surgiu na Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e
Paisagística, que teve lugar no Reino Unido. Com aproximadamente uma dezena de
anos, não admira que quer o termo quer o conceito não apresentem uma
implantação clara, mesmo no que se refere à comunidade geológica. (Brilha,
J.,2005)
Muitos
autores têm tentado definir geodiversidade, particularmente oriundos da Europa
e da Austrália, os continentes que lideram este tema. Contudo as suas versões
não são coincidentes: para alguns a geodiversidade limita-se ao conjunto de
rochas, minerais e fósseis enquanto para outros o conceito é muito mais lato,
englobando também os seres vivos que sobre eles habitam. Uma definição
suficientemente abrangente é a proposta pela Royal Society for Nature
Conservation do Reino Unido: A
geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e
processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e
outros depósitos superficiais que são o suporte de vida na terra. (Brilha,
J.,2005)
Aceitando
esta definição estamos a restringir a geodiversidade a partes não vivas do
planeta Terra, mas não apenas aos testemunhos de um passado geológico (fósseis,
minerais e rochas), alargando-o aos processos da natureza que acontecem agora
naturalmente originando novos testemunhos. (Brilha, J.,2005)
Apesar
de constituir um pequeno território, Portugal tem uma grande geodiversidade (a
exemplo do que acontece com a biodiversidade). Mesmo os mais leigos podem
distinguir as formações a norte e a sul bem como as litorais e as do interior.
A norte geralmente formações mais antigas e elevadas, a sul mais modernas e
menos altas enquanto as zonas litorais têm as suas características próprias com
os extensos areais e as arribas (Brilha, J.,2005) algumas de grande importância
ambiental como a duna fóssil da Costa da Caparica e as formações rochosas do
litoral algarvio.
Também
os territórios autónomos possuem características próprias: a Madeira com o seu
relevo acidentado enquanto nos Açores o relevo é muito mais suave, marcado por
acentuados acidentes vulcânicos. (Brilha, J.,2005)
A
morfologia geológica do território continental português é formada por três
conjuntos morfoestruturais principais: o maciço antigo ao longo de todo o
interior do país (mais a norte que a sul), as orlas meso cenozoicas ocidental e
meridional (ao longo da costa entre Lisboa e Aveiro aproximadamente) e a bacia
cenozoica do Tejo-Sado (centrada naqueles dois rios). (Brilha, J.,2005)
Para
proteger e conservar qualquer coisa é porque lhe reconhecemos algum valor ou
por qualquer outro desiderato, qualquer que ele seja, que tenha que ver com o
nosso passado, presente ou futuro ou que possa contribuir para compreender a
complexidade do nosso viver em coletividade. Para o fazer em relação à
geodiversidade é necessário definir os critérios que contribuam para lhe
atribuir valor e interesse. Segundo os critérios de valorização da geodiversidade,
adaptado de Gray, 2004, colocado na plataforma, temos:
1.Valor intrínseco: Refere-se ao valor
que as coisas possam ter em si mesmo, para além da utilidade que possam ter
para o Homem. Neste critério há uma dimensão ética e filosófica que obriga a
uma análise no contexto mais vasto das relações Homem/Natureza.
2.Valor cultural: Folclóricos (calçada
dos Gigantes) e Arqueológicos/históricos (Esculturas de Petra na Jordânia,
infelizmente destruídas com o apoio de estruturas politicas).
3.Valor espiritual: Urulu (Austrália).
4.Sentido de lugar: Gibraltar.
5.Valor estético: Valor subjetivo e não
passível de quantificação. Dizer que esta paisagem é mais bonita que aquela é
de uma grande subjetividade, mas qualquer paisagem natural possui sempre um
valor estético. (Brilha, J.,2005). Paisagens Locais, Geoturismo, Atividades de
lazer, Apreciação remota, Atividades de voluntariado e Inspiração artística.
6.Valor económico: Este valor é
facilmente compreensível e objetivo. Desde sempre (ou quase sempre) que o homem
utilizou os materiais geológicos nesta perspetiva. Energia (petróleo, carvão e
gás natural), minerais industriais, minerais radioativos, materiais de
construção, pedras preciosas, fósseis, solos.
7.Valor funcional: Construção e suporte
de infraestruturas, Armazenamento e reciclagem, Saúde, Incineração, Controle da
poluição, Química da água, Funções do solo, Funções do geossistema, Funções do
ecossistema.
8.Valor científico e educativo:
Investigação científica, História da Terra, História da Ciência, Monitorização
ambiental, Educação e formação.
Mas
esta diversidade geológica encontra-se ameaçada, desde logo pela atividade
humana. São múltiplos os exemplos que o provam. A maior parte dos materiais
geológicos têm um aspeto de grande robustez o que á partida lhe confere uma
aparência de resistência e durabilidade, apesar das ameaças a diversas escalas
e em distintos graus, desde a degradação de extensas áreas paisagísticas á
destruição de um pequeno afloramento. (Brilha, J.,2005)
Segundo
este reputado professor, as principais ameaças que pairam sobre a
geodiversidade são as seguintes:
1.Exploração de recursos geológicos que
podem constituir uma dupla ameaça: ao nível da paisagem (as explorações a céu
aberto afetam-na se não forem tomadas medidas minimizadoras) e ao nível dos
afloramentos (a exploração indiscriminada pode consumir produtos geológicos de
acrescentado valor científico ou outro).
2.Construção de obras e estruturas. Todas
as infraestruturas trazem impactes negativos sobre a geodiversidade, pelo que é
preciso prevê-los e fazer todos os esforços para minimizá-los.
3.Gestão das bacias hidrográficas.
Algumas das bacias nacionais têm sido sujeitas a grandes intervenções
(barragens, regularização de caudais, prevenção de cheias, etc.) que têm sido
responsáveis por grandes impactes na geodiversidade.
4.Florestação, desflorestação e agricultura.
A vegetação pode ocultar importantes vestígios e características geológicas
importantes em termos científicos e pedagógicos. A desflorestação pode também
ter efeitos negativos pois promove a erosão do solo, enquanto a agricultura,
particularmente a intensiva e industrializada pode ser severamente negativa,
devido á utilização de maquinaria pesada que leva á erosão do solo e ao uso
intensificado de adubos e pesticidas que podem afetar a qualidade das águas
(subterrâneas e superficiais).
5.Atividades militares. As atividades
bélicas (quer de treino quer efetivas) ocorrem por vezes em zonas sensíveis, o
que devido às grandes máquinas de guerra e aos bombardeamentos podem interferir
na qualidade e erosão do solo e a inutilização de munições (detonadas ou
abandonadas no terreno) podem também contribuir para a inutilidade do solo e
das águas.
6.Atividades recreativas e turísticas. Estas
atividades, especialmente as que se desenvolvem em ambientes naturais colocam
grande pressão sobre a geodiversidade. A utilização de veículo todo o terreno
em terrenos sensíveis pode romper o seu equilíbrio e promover a sua destruição.
A visita a grutas e a promoção de escaladas podem ter efeitos negativos nestas
estruturas frágeis. Os equipamentos turísticos, por exemplo campos de golf,
também podem ser muito prejudiciais por serem estruturas que necessitam de
elevadas quantidades de água.
7.Colheita de amostras geológicas para fins
não científicos. Estes recursos (rochas, fósseis e minerais) que a todos
pertencem são recursos não renováveis (á escala da vida humana). A sua recolha
indiscriminada, sem nenhum controle e sem fins científicos constitui um grave
ataque ao património coletivo da humanidade, uma vez que a sua formação é
infinitamente inferior às possibilidades depletivas do homem. Quando as
amostras são recolhidas para fins científicos, educativos ou museológicos pode
aceitar-se a sua recolha. Convém também referir que nem todas as amostras á
venda resultam de recolhas ilícitas pois muitas são apanhadas em frentes
mineiras, onde seriam inevitavelmente destruídas. O que seria recomendável era
exigir-se um código de ética profissional a quem transaciona estes produtos e
um certificado de autenticidade de todas as amostras á venda no mercado.
8.Iliteracia cultural. As ameaças
referidas anteriormente têm por base alguma iliteracia cultural, também ao mais
alto nível (políticos, técnicos, decisores públicos e privados, etc.). Seria
desejável, quando estes responsáveis tivessem que tomar qualquer decisão se
rodeassem de especialistas nestas áreas, geólogos e outros conhecedores no
sentido de evitarem atropelos ao geopatrimónio ou, no caso de as ações serem
irreversíveis, minorassem o seu efeito sobre o mesmo.
Com
pouco mais de uma centena de elementos químicos ao logo dos 4600 anos de vida
da Terra, foram-se gerando 3500 espécies de minerais que originaram centenas de
rochas diferentes. Estas são o substrato fundamental para o desenvolvimento de
uma espantosa variedade de seres vivos – a biodiversidade. Restrita a partes
não vivas do planeta, a geodiversidade pode ser considerada como a principal
causa para a imensa variedade de sítios onde a vida apareceu e evoluiu. Os
geólogos e outros especialistas concluíram, que ao longo da história da Terra
ocorreram diversos acidentes geológicos que destruíram muitas espécies vegetais
e animais. (Pereira. D. et. al, 2008)
Estes acidentes á escala planetária foram determinantes na História da Terra e
conduziram ao mundo tal como o conhecíamos há pouco mais de um século. Depois
entrou em cena um novo e importante predador, o HOMEM, que tentou modelar o
mundo mas fracassou, conduzindo o Planeta á borda de uma nova ordem, da qual
desconhecemos o fim.
Referências Bibliográficas:
Brilha,
J. (2005). Património Geológico e
Conservação. A Conservação da
Natureza na sua vertente geológica. Palimage, Imagem Palavra. Braga.
Critérios
de valorização da geodiversidade. (adaptado de Gray, 2004) - Colocado na
Plataforma;
Cunha,
P. (s.d.). Relevância da geodiversidade e da geoconservação para o
desenvolvimento sustentável. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
de Coimbra. Universidade de Coimbra. Coimbra.
Pereira,
D., Brilha, J., Pereira, P. (2008). Geodiversidade,
valores e uso. Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Universidade do Minho.
Braga.
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