Caro Vitor:
Mandaste-me
uma interessante mensagem sobre a “campanha do trigo” e de Alqueva, aspetos
importantes dos últimos anos do meu Alentejo. Tentei perceber onde tinha ido
parar o comentário em questão, mas para além do meu correio não o consigo
encontrar em nenhum local. Agora depois de enviar esta mensagem vou ao meu blog
(mais uma vez) a ver se o localizo.
O problema
do Alentejo começou, de facto com a chamada campanha do trigo. Não sei se
poderia ter sido evitado mas mitigado com certeza que sim. Contudo a primeira e
mais profunda "machadada" no ecossistema alentejano deu-se com o
abate indiscriminado da floresta autóctone, com o abate de verdadeiros
santuários reliquiais de sobreiros e principalmente de azinheiras, que foram
dizimados para a mecanização dos amplos campos alentejanos preparando-os para a
monocultura. Com esta prática a desertificação foi-se acentuando, a
biodiversidade afetada e minguando e alguns dos nossos ex-libris foram
desaparecendo (linces, aves carnívoras e outras, etc.). Quando abrimos os olhos
e fomos postos perante a realidade já era um pouco tarde. Mas nem tudo está
perdido, é preciso enfrentar as contrariedades e tentar reverter um pouco da
situação. Hoje há bons exemplos de interessantes projetos que tentam recuperar
alguma da diversidade perdida.
A questão de
Alqueva foi, para os alentejanos de importância capital. Não sei se sabes mas
eu fui um dos alentejanos que lutei pela sua construção. Na qualidade de
presidente da Associação de Defesa de Alqueva bati-me na região, no país e
inclusivamente em Bruxelas por ela. Hoje, depois de ter pensado maduramente
sobre o assunto e das leituras que tenho feito sobre as questões da
sustentabilidade e outras já não tenho tantas certezas. Mas quero também
dizer-te que ainda não vejo alternativas à sua construção. Numa região com
graves problemas de falta de água pareceu-me (no passado) quase criminoso não
aproveitar o manancial que corria para o mar (não conhecia a fundo os problemas
da sedimentação, dos peixes migradores, etc.) e a ideia do atual Presidente da
República, de Alqueva como uma "Reserva Estratégica de Água" como
muitas outras antes desta, construíram a minha aguerrida militância em torno da
construção da barragem. Será que é a solução para o Alentejo? Como te disse
anteriormente ainda não vejo alternativas...
Cumprimentos,
Manuel
Mestre
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