terça-feira, 30 de abril de 2013


Caro Vitor:

 

Mandaste-me uma interessante mensagem sobre a “campanha do trigo” e de Alqueva, aspetos importantes dos últimos anos do meu Alentejo. Tentei perceber onde tinha ido parar o comentário em questão, mas para além do meu correio não o consigo encontrar em nenhum local. Agora depois de enviar esta mensagem vou ao meu blog (mais uma vez) a ver se o localizo.

 

O problema do Alentejo começou, de facto com a chamada campanha do trigo. Não sei se poderia ter sido evitado mas mitigado com certeza que sim. Contudo a primeira e mais profunda "machadada" no ecossistema alentejano deu-se com o abate indiscriminado da floresta autóctone, com o abate de verdadeiros santuários reliquiais de sobreiros e principalmente de azinheiras, que foram dizimados para a mecanização dos amplos campos alentejanos preparando-os para a monocultura. Com esta prática a desertificação foi-se acentuando, a biodiversidade afetada e minguando e alguns dos nossos ex-libris foram desaparecendo (linces, aves carnívoras e outras, etc.). Quando abrimos os olhos e fomos postos perante a realidade já era um pouco tarde. Mas nem tudo está perdido, é preciso enfrentar as contrariedades e tentar reverter um pouco da situação. Hoje há bons exemplos de interessantes projetos que tentam recuperar alguma da diversidade perdida.

 

A questão de Alqueva foi, para os alentejanos de importância capital. Não sei se sabes mas eu fui um dos alentejanos que lutei pela sua construção. Na qualidade de presidente da Associação de Defesa de Alqueva bati-me na região, no país e inclusivamente em Bruxelas por ela. Hoje, depois de ter pensado maduramente sobre o assunto e das leituras que tenho feito sobre as questões da sustentabilidade e outras já não tenho tantas certezas. Mas quero também dizer-te que ainda não vejo alternativas à sua construção. Numa região com graves problemas de falta de água pareceu-me (no passado) quase criminoso não aproveitar o manancial que corria para o mar (não conhecia a fundo os problemas da sedimentação, dos peixes migradores, etc.) e a ideia do atual Presidente da República, de Alqueva como uma "Reserva Estratégica de Água" como muitas outras antes desta, construíram a minha aguerrida militância em torno da construção da barragem. Será que é a solução para o Alentejo? Como te disse anteriormente ainda não vejo alternativas...

Cumprimentos,

Manuel Mestre

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